#24

pronto, demito-me. não tenho a teimosia do Coelho e fui perdendo o orgulho por aí, portanto é isto: demito-me. deixo o meu corpo às ordens de um reino anárquico, uma república de almas caídas, perdem-se as leis e sistemas, sou um conjunto de regras e muita preguiça para as cumprir. abandono o navio sem remorsos, o destino deste país está nas mãos de outros e nas voltas que o mundo dá - eu demiti-me.

#23

também quero mudar vidas.
- deixem-me, vá lá. parece tão fácil extraordinário

#22

tenho um coração de dimensão reduzida. tão pequeno que só tem espaço para mim, que de repente fico gorda, ocupo o espaço dos outros e me deixo ficar. engoli tudo e não deixei nada, fiquei esfomeada e engasguei-me com culpas do meu coração: peço desculpa, mas o lugares já estão todos ocupados. graças a deus que não entraram bebés nem bandidos de palmas sempre prontas, os bilhetes esgotaram em segundos e eu escondi-os todos, um a um ou pessoa a pessoa, troquei-os por supostas pessoas, amigos de madeira, almas de lata.
perdi a minha. perdi a lata e deixei de fingir que o meu coração é espaçoso. esqueçam, eu é que sou demasiado espaçosa, este espaço é meu e qualquer semelhança comigo é pura ficção espacial.
no fundo, é tudo uma questão de arquitetura, infraestruturas que me suportem e canalizem, um prédio prestes a ruir.

#21

Engana-te de propósito a fazer as contas. Falha o golo em frente à baliza. Despenteia-te. Escreve "sapo" com cê de cedilha: çapo. E também "sopa": çopa. Inventa combinações de números quando o multibanco te pedir o código. Contraria o GPS. Põe sal no café. Telefona à tua mãe e diz que querias ligar para as finanças. Despede-te quando chegares e diz olá quando partires. Senta-te no chão. Veste a camisola ao contrário. E, por favor, calça o sapato do pé esquerdo no pé direito e calça o sapato do pé direito no pé esquerdo. Verás que não é assim tão desconfortável, que o calçado ortopédico é um exagero e que há muito mais do que aquilo que esperas naquilo que não esperas.

gostos à parte, do José Luís Peixoto
via (a outra) Sofia

#20


meaningless excitement. i'm an expert

#19

acho que sei o que são remorsos.
são aqueles monstrinhos de máscara piedosa que as flores disfarçam, não são? as tocas fundas que escondem serpentes, compridas e cruéis, das que são estúpidas, das que hemingway gostava de caçar. são do tipo caça disfarçada, guarda prisional, assassino em série. matam tudo. são víboras, serpentes, cobras, minhocas, vermes, são as águias que os debicam. os remorsos têm pistolas e matam pessoas, vão directos àquelas de que mais gostamos, não se enganam a escolher os dias que tinham tudo para ser bons - os remorsos são nuvens de chuva, são calendários de inverno, épocas de exames e dias holandeses, uma venda branca que tudo tapa.
pensando bem, é jogar às escondidas ou um jogo de adultos, são grades e nós só conseguimos ver o sol pelos buraquinhos, sem nunca saciar fome alguma. remorsos não deixam as maçãs da fruteira amadurecer, são o prato que devorámos sem fome, são as kardashian na televisão [inúteis, mas mesmo assim ---]

#18

devolve-me os laços, meu amor
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