drunk or stoned


Meias palavras, dúvidas e segredos. Suspiros. Beijos. Desesperos. Rezar o terço ajoelhada no chão. Entregar-me ao primeiro homem que aparecer. Chorar pelos cantos e deixar-me ir. Parar de lutar, esquecer, conformar-me. Sorrir para todos. Beber até cair, fumar um cigarro encostada ao muro. Enrolar-me com um qualquer atrás da igreja, comprar felicidade. Ter medo de compromissos. Chorar o que não sinto e soltar gargalhadas por aquilo que não percebo.

Dizer-te que tenho saudades tuas, abraçar-te. Comer sem fome e celebrar sozinha. Distrair-me contigo, escrever, nem sequer tentar. Ser de esquerda ou direita, extremista, radical, populista. Fazer falsas promessas e renovar o guarda-roupa. Jurar começar a fazer dieta no dia seguinte, ser a melhor amiga da televisão. Ultrapassar o limite, esconder. Porque quanto mais quero ser, pior sou.

standing in the way of control


Nunca me distinguirias no meio da multidão.

Eu ponho-me na fila, por entre esta gente apagada, vestida com o uniforme e pareço igual a todos os outros. Desde sempre me taparam os olhos e esconderam a minha singularidade, acabei por perdê-la, nesses becos escuros e sujos, onde também eu me perdi e transformei. Dou por mim igual a todos os outros, na fila, à espera que me confisquem e analisem, nesta homogeneidade artificial. Estou à tua espera.
Tu chegas. Confiscas-me, olhas-me de lado, fazes essa expressão, tão típica, tão tua, de reprovação e deixas-me com esse teu ar de desprezo. Rebaixas-me, tratas-me abaixo de cão, bates-me com o teu chicote e chego até a sentir as tuas bofetadas. Mas os meus olhos cravaram-se nos teus e não os largam. Esqueço-me de tudo o resto e sigo-te - esqueço-me de ser igual, de estar alinhada, de estar na fila e passo a ser eu mesma, diferente dos outros, com os olhos postos em ti, para ti. Perdi-me, de novo.

hope there's someone



À minha volta a chuva miudinha caía no chão, suavemente, quase sem vontade, numa melancolia característica de um dia cinzento. Imóvel, eu continuava ali, à beira da estrada, porque a chuva não me afectava. O meu cabelo não escorria, as minhas mãos não estavam húmidas. Eu esperava por ti, a pensar em tudo o que ainda nos restava. A esperança de que chegasses protegia-me, como se os teus braços estivessem novamente à minha volta.

Mas chegaste e a chuva voltou a atacar-me – o teu regresso não trouxe o que eu queria. Foste mudo, surdo, cego. Chegaste? (Nunca notei.) Mais valia nem teres saído de casa.

pity and fear


Eu arrasto-te pelo chão, escondida, e fecho os olhos. No meio da multidão, de milhentas pessoas e os seus problemas, esqueço-te e arrasto-te atrás de mim. Não olho para trás, nunca, para não ter de te encarar e tu continuas mergulhada nesse mar que é só teu, porque eu virei-te as costas e preferi não saber mais nada. É uma guerra fria e eu carrego o meu peso e o teu, sem ter sequer coragem para o mandar borda fora. Porque eu arrasto-te comigo e, se me afundar, tu afundaste também.
No fim, a verdade é o único obstáculo entre nós e eu continuo a arrastá-la pelo chão, sem que ninguém repare.

you don't know me


Wave goodbye, wish me well, you've gotta let me go
(The Killers - Human)
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