all you need is love

sorry or please

Construí-te. Peça a peça, tu suplicavas-me que eu te refizesse, com esses olhos que outrora me faziam derreter, perder a cabeça, até me pôr a teus pés. No entanto, agora olho para ti e pareces-me uma mera construção, velha e insensível, nada de especial. Perdeste a tua unicidade. Essa terrível ambição, essa cegueira, esse teu amor pelo inalcançável mostrou-te que afinal tu não eras dono do mundo, fez-te perceber que é preciso muito mais do que “querer”, desfez-te. Agora o que te resta são essas mãos, secas, rugosas, que se estendem para mim e me pedem ajuda. Tens a certeza de que é isso que queres? Da última vez, quem pediu ajuda fui eu e tu não te mostraste acessível. Enfureceste-me. Roguei contra ti todas as pragas que conhecia, escrevi-te os meus piores textos, dediquei-te os meus piores pesadelos. Pelos vistos, alguém ouviu as minhas preces e agora estás tu de joelhos, à minha frente.
Esses joelhos, nus e feridos, arrastando-te pelo chão, dão-me sinais da tua fraqueza. É a minha vez de me aproveitar de ti, de pegar no que ainda resta e desfazê-lo em mil pedaços, é a minha vingança. Mas o meu coração não é de pedra e eu vejo nos teus olhos, mentirosos e hipócritas, que precisas de mim – queres a tua vida de volta e ela está nas minhas mãos. Falo contigo e pergunto-te como chegaste a este estado, tu respondes-me apenas com essa lágrima suja que cai pela tua cara. Nem chego a ouvir a tua voz, não te pergunto mais nada, não quero chegar à conclusão que já nem a voz te resta.


A decisão é minha. Posso deixar-te aí sozinho, no meio da rua, descalço e com uma moeda no bolso para um maço de cigarros, esquecer o assunto e considerar esta a minha pequena vingança. Ou então, posso dar-te mais uma moeda para a cerveja dessa noite e continuar o meu caminho. É este o meu limite e eu, por ti, já não consigo pisar o risco.

midnight show

Morri. A sala estava vazia e o mundo parado. Não pensei, não pensei no barulho lá fora nem no silêncio cá dentro, não pensei na luz que passava pelas janelas e me aquecia, não pensei em ti.Por instantes esqueci todos os projectos, todas as crenças, todos os nomes. Já não sentia vontade de correr, de rir, de sentir. A energia esgotou-se. Foi dar uma volta, arejar. Fugiu para ver o mar uma última vez. Não tentei impedi-la, não tinha esse direito. Não volta e talvez eu já não esteja preparado para recebe-la. Tornou-se típico em mim. A porta fechou-se e o sorriso raramente se abre. E tu és a chave que eu não encontro. Perdi-te numa sombra, procurei por entre os dedos mas estes depressa se esconderam. O futuro é negro e eu perdi a coragem. Desculpa, mas tenho de ir. Perdeste a simplicidade que eu amava. O caminho que percorríamos tornou-se demasiado escorregadio. Já não há braços que me guiem nem beijos que me calem – acabou.

Acabou – já não há braços que me guiem nem beijos que me calem. O caminho que percorríamos tornou-se demasiado escorregadio. Perdeste a simplicidade que eu amava. Desculpa, mas tenho de ir. O futuro é negro e eu perdi a coragem. Perdi-a numa sombra, procurei por entre os dedos mas estes depressa se esconderam.E tu és a chave que eu não encontro. A porta fechou-se e o sorriso raramente se abre. Tornou-se típico em mim. Ela não volta e talvez eu já não esteja preparado para recebe-la. Fugiu para ver o mar uma última vez. Não tentei impedi-la, não tinha esse direito. Foi dar uma volta, arejar. A energia esgotou-se. Já não sentia vontade de correr, de rir, de sentir.Por instantes esqueci todos os projectos, todas as crenças, todos os nomes. Não pensei, não pensei no barulho lá fora nem no silêncio cá dentro, não pensei na luz que passava pelas janelas e me aquecia, não pensei em ti. A sala estava vazia e o mundo parado. Morri.
por sofia b., martini e uma cisma

free at last

Grita o mais alto que consegues. Mostra a todos a tua fúria, a tua revolta, o que queres. Enche o peito de ar! Bem alto, acima de tudo e todos, do cimo de um monte, sozinho. Conta até três e deixa-te ir. Grita. E depois foge.



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