Dizem por aí que ele era um homem feliz, sempre alegre, sempre a assobiar. Já não me lembro. Da minha memória já só faz parte aquele homem perdido, sem expressão.
Não sabia onde estava, não sabia quem eram aquelas pessoas que o rodeavam, não sabia quem era. Mas assobiava. Assobiava a melodia da ignorância, da ingenuidade. Fazia transparecer um sentimento de confusão, de quem anda perdido, de quem já não sabe nada. Tudo aquilo que os anos lhe tinham ensinado e a rugas tinham testemunhado parecido perdido, tal como uma agulha no palheiro - as esperanças de a voltar a encontrar eram nulas. As memórias levou-as o vento, quando S. Pedro decidiu deixar aquele homem sem nada. Porque, afinal, tudo o que ele tinha tido um dia eram memórias, recordações, uma vida.
E ele continuava a assobiar, alienado da realidade, no seu próprio mundo, onde não cabia mais nada para além do seu corpo, da sua mulher, que nunca desistiu, e do seu lar, que muitas vezes era difícil reconhecer. Tudo o resto era desconhecido, não fazia parte. E continuava a assobiar